Diferentes narrativas de criação e cosmologias, 16 línguas faladas, e vasta mitologia ligada à floresta Amazônica dão ao alto e médio rio Negro um dos mais ricos e intrigantes universos culturais do Brasil.
Apesar das diferenças de costumes e línguas, os 23 povos indígenas rionegrinos pertencentes a 4 famílias linguísticas – Tukano Oriental, Aruak, Nadahup e Yanomami – dividem elementos comuns, que dizem respeito às narrativas de origem, conhecimentos xamânicos e terapêuticos, cultura material e cerimonial. Estar no rio Negro, em especial no município mais indígena do Brasil, São Gabriel da Cachoeira, onde somos cerca de 90% da população, é vivenciar a cultura dos povos originários, a começar pela línguas cooficializadas em São Gabriel: Baniwa, Tukano, Nheengatu e mais recentemente o Yanomami.
O fluxo entre as 700 aldeias distribuídas pelas terras demarcadas do Médio e Alto Rio Negro com a parte urbana dos municípios (Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel) faz com que a vida comunitária da aldeia, com seus hábitos e costumes, também esteja presente nessas cidades que crescem a margem da floresta e das águas do rio Negro. Da culinária à música, do artesanato à cerâmica, passando pelos banhos de rios, pelo descanso nas redes, benzimentos, curas e crenças, a defesa da nossa identidade indígena está como uma das principais missões da FOIRN.
Terra e Cultura para o Bem Viver!
Vinte e três locais sagrados ou “casas de transformação”, como são chamadas pelos conhecedores indígenas da família Tukano oriental, foram mapeados pela Expedição Anaconda entre os anos de 2013 e 2015 ao longo de 800 km de percurso na bacia do rio Negro. Esses locais foram os pontos de parada de seus primeiros ancestrais no curso da “viagem de transformação” que os levou até o centro da terra, o território onde até hoje vivem os diversos grupos tukano que compartilham deste corpus mitológico, nas bacias dos rios Negro, Uaupés e Apapóris.
A experiência foi realizada no âmbito do projeto Mapeo e contou com a participação de diversos conhecedores indígenas dos povos de língua tukano, além de representantes dos ministérios da cultura do Brasil e Colômbia, pesquisadores que trabalham junto aos povos da região e uma equipe de cineastas e cinegrafistas indígenas e não-indígenas coordenada pelo Vídeo nas Aldeias. A iniciativa contou com o trabalho da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e instituições colombianas.
Veja mais: https://www.socioambiental.org/pt-br/tags/anaconda
A cestaria Baniwa de Arumã é uma arte milenar ensinada aos homens baniwa pelos seus heróis criadores e cujos grafismos foram inscritos pelos antepassados nas pedras, em forma de petroglifos, para que nunca fossem esquecidos.
Umuku Ñeku, o avô do universo, sentou-se num banco de quartzo para criar o mundo e a humanidade. Hoje, esculpido em madeira, o banco tukano é o assento do kumu, o benzedor.
Na ilha de Duraka (Camanaus), na TI Médio Rio Negro, em maio de 2019, foi realizada uma oficina para a produção de Bancos Tukano em parceria com o Museu Etnológico de Berlim, que vem desenvolvendo uma parceria com pesquisadores indígenas e não indígenas que atuam no rio Negro. O objetivo da oficina foi produzir bancos para serem levados para uma exposição na Alemanha, assim como para produção audiovisual. Veja algumas imagens da criação dos bancos feitas por Ovinho Tuyuka, da Rede Wayuri e Juliana Radler, do ISA.
A inscrição das histórias de origem na paisagem natural na Bacia do rio Negro. Os trabalhos reunidos nesta publicação mostram a associação fundamental da história e da memória social guardada ao longo do curso dos rios, nas cachoeiras, pedras, praias, estirões, remansos e paranás.
A cerâmica branca produzida pelas mulheres Baniwa é a marca da cultura material dos povos Arawak. As peças brancas com pinturas alaranjadas contrastam com a cerâmica preta e pinturas em negativo produzidas pelas mulheres dos povos Tukano, com as quais os Baniwa e outros diversos povos indígenascompartilham o território do Alto Rio Negro na fronteira do Brasil com a Colômbia.
Galeria com fotos de Natália Pimenta, do ISA, realizadas durante oficina de produção de cerâmica no Içana em 2018.
A confecção de cerâmica no Alto Rio Negro é uma arte milenar. Essencialmente feminina, hoje, a cerâmica Tukano é produzida nos rios Uaupés e Tiquié, com destaque para o distrito de Taracuá, no Baixo Uaupés (TI Alto Rio Negro), onde a associação AMIRT (Associação de Mulheres Indígenas da Região de Taracuá) reúne 20 ceramistas e está desenvolvendo a cadeia produtiva desta cerâmica. Veja imagens feitas por Juliana Lins, do ISA, da produção dessa cerâmica em oficina realizada em Taracuá em 2017.
Em novembro de 2017, os arqueólogos Raoni Valle e poani Higino Tenório, do povo Tuyuka, realizaram uma oficina no rio Tiquié (TI Alto Rio Negro) com o tema da arqueologia junto aos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (Aimas) para contar as histórias dos petroglifos e dos lugares sagrados na região. Abaixo estão algumas imagens captadas por Raoni Valle e o artigo completo dessa viagem pode ser visto na revista ARU 3.