FOIRN, a federação que representa 23 povos indígenas no Brasil

Com sede em São Gabriel da Cachoeira (AM), considerado o município brasileiro mais indígena, a Foirn articula ações em defesa dos direitos e do desenvolvimento sustentável de 750 comunidades indígenas na região mais preservada da Amazônia, na tríplice fronteira com Venezuela e Colômbia

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Em 1987, quando fundamos a FOIRN, nossa principal bandeira de luta era a demarcação de nossas terras originárias. Naquela época, enfrentávamos ameaças de garimpo ilegal, extração de riquezas naturais e exploração desumana do trabalho indígena, muitas vezes análogo à escravidão, como visto na prática do aviamento (servidão por meio da dívida), muito comum na região.

 

Conheça o Estatuto Social da FOIRN e nosso Termo de Transparência

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Após o etnocídio cometido pelos missionários religiosos em conjunto com o Estado brasileiro, que nos proibiram de falar nossas línguas, assim como de realizar rituais, e morar em casas comuns (malocas), também precisávamos lutar pelo fortalecimento das nossas raízes ancestrais, da nossa cultura. O Brasil estava em pleno processo de redemocratização, redigindo sua nova Constituição e os direitos originários dos povos indígenas precisavam ser garantidos, como ocorreu com a inclusão do art.231

Muita gente dizia que nossa cultura estava morta. Mas, nossos velhos conheciam a história e a cultura transmitida oralmente, falavam nossas línguas e eram sementes da resistência. Passamos por vários ciclos de exploração e tentativa de extermínio cultural, mas nossa música, danças, línguas e todos os hábitos e costumes sobreviveram às formas mais brutas e violentas de “integração” à sociedade nacional (não indígena).

Hoje, tendo a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (PNGATI) em mãos, batalhamos pela chegada das políticas públicas e pela efetivação do que nos é garantido por lei. Sempre árdua e lenta são as conquistas sociais, ainda mais nas distantes terras indígenas da Amazônia. Sempre exigem vigília constante, pois qualquer descuido resulta em perda de direitos, descaso e corrupção. O trabalho de controle social é uma tarefa inglória, pouco reconhecida pela sociedade, mas essencial ao bom funcionamento do Estado democrático de direito.

Resistir para existir – Mais de 500 anos de luta

Assim, a Foirn nasceu com o lema “Terra e Cultura”, tendo como principal bandeira de luta defender o território e valorizar a cultura dos povos que há pelo menos 3 mil anos habitam a região. Valorizar esse território, a floresta e seus habitantes é a nossa missão. A cada dia surgem novos desafios e, hoje, diante de incertezas e ameaças aos direitos constitucionais conquistados, sabemos que a luta é pela vida e pela sobrevivência da espécie humana no planeta. Enfrentamos, hoje, a maior ameaça à vida na Terra: as mudanças climáticas. E muitos líderes mundiais estão cegos diante deste problema que exige ação coletiva global imediata.

As florestas mais preservadas do planeta estão nas terras indígenas porque nós sabemos como morar e viver na floresta sem destruir. Pesquisas arqueológicas e botânicas mostram inclusive como contribuímos ao longo de séculos com a formação da floresta que vemos hoje. Grande parte da domesticação de espécies, assim como de muitas grandes árvores como a castanheira e a Sumauma, são fruto da intervenção indígena, como apontam estudos ligados à terra preta de índio na Amazônia. Portanto, mais do que viver em harmonia, nós colaboramos com a floresta porque somos parte dela e exigimos sua proteção diante daqueles que insistem em ter interesses econômicos acima do bem comum e da vida. Chega de Brumadinhos, Marianas, agrotóxicos, desmatamento e morte. Vamos respeitar a Constituição e o direito à vida, que é dado a todos sem distinção de gênero, cor, raça e classe social.

Equipe FOIRN/ Abril de 2019